Recordam-se, neste ano de 2007, os duzentos anos das Invasões Francesas. Eis algo que, esperemos, dê azo a grandes reflexões sobre a História de Portugal.Tefiro-me a uma História sem complexos. Porque, neste campo. continuam a existir muitos complexos.
Um deles reside no facto de pouco se falar na revolta popular generalizada do povo português contra o ocupante gaulês, em 1808. Ela foi geral, e percorreu quase todo o País. O problema é que teve aspectos considerados bárbaros para os meis sensíveis. E, como no seu ódio contra quem pilhava e roubava Portugal se viam como inimigos também os ideais liberais, a História, escrita principalmente por liberais, vitoriosos em 1820, e definitivamente em 1834, resolveu falar pouco disso. Bastará ler alguns livros, pouco citados e quase nunca reeditados, para compreender o que foi um povo em fúria a lutar contra um ocupante opressor e contra os seus colaboradores "internos". è o caso da "História Geral da Invasão dos Franceses em Portugal", de José Acúrsio das Neves. Ou de "El-Rei Junot, de Raul Brandão".
Dir-se-ia que algumas elites apanharam um valente susto. E, pelos vistos, ainda não se sentem à vontade com o tema. Ao ponto de investigadores estrangeiros pensarem que não houve revolta. Houve, sim. Cega, reaccionária porque contra tudo o que o invasor representava, desumana com excepções pontuas. O que não se pode fazer é História (com "H" maiúsculo) omitindo o que não convém. Esperemos que os duzentos anos façam algo para recuperar este passado. Que poderá não ser bonito, mas que existiu, e foi uma manifestação colectiva, das mais importntes da História do Povo Português.
Outro complexo está em deliberadamente esquecer o que se poderá considerar como uma pré-invasão francesa. Há até quem lhe chame Primeira Invasão francesa. O "caso" passou-se em 1801, e anvolveu uma invasão espanhola, manobrada por Paris. Dela resultou a ocupação de Olivença... curiosamente, o último vestígio palpável de toda aquela época, uma vez que subsiste um conflito diplomático até hoje.
A História é simples. A Revolução Francesa, de início, é bem aceite em Portugal, salvo pelo Poder. Mas, com as Reformas democráticas, e principalmente com o início da Expansão francesa, as coisas mudam. A morte do Rei Luís XVI lançou o pânico. Toda a Europa se coligou contra a França. Neste contexto, Portugal vai participar, em 1793, como um exército auxiliar da Espanha, nas, tantas vezes esquecidas, Campanhas do Rossilhão e da Catalunha. É nessa altura que surge Manoel Godoy, "primeiro-ministro" de Espanha. Em plenas campanhas, assina a Paz com a França (1795), ganhando o título de "Príncipe da Paz". Todavia, Portugal foi esuqecido pelo seu aliado. Continua, teoricamente, em guerra com a França. Abre-se, até 1801, um período de uma complexidade extraordinária. Portugal procurava a paz, usando a Espanha como medianeira, mas em vão. A partir de 1799 mais se complica a situação portuguesa. Napoleão procurava alargar o Domínio Francês. Em 1801, Bonaparte, nomeia um exército para invadir Portugal, sob o comando do general Leclerc.
Godoy, todo poderoso em Espanha, viu na invasão de Portugal uma oportunidade de brilhar ainda mais (?),e convence Napoleão a deixar que seja ele a comandar a invasão do Alentejo à frente de um exército espanhol. Os franceses ficaram estacionados ao longo da fronteira, em Ciudad Rodrigo.
Esta invasão, denominada Guerra das Laranjas, para muitos não é mais do que a primeira invasão francesa. Quase sem luta todo o Alentejo, mesmo porque havia a sensação de que se estava a lutar por "estranhos ao conflito", como "carne para canhão". As negociações de paz em Badajoz, levaram à devolução de todas as Praças a Portugal, salvo Olivença. Nestas negociações estavam, também, representados os franceses, que se sentiram defraudados, e negaram-se a subscrever o texto. Este apresentava lacunas várias, que Portugal considerou depois conduzirem à sua nulidade. Como disse Pinheiro Chagas, o tratado de Badajoz quebra-lhe «nas mãos a arma de que se estava servindo nas suas negociações com a Inglaterra».
Perante isto, é natural que muitos considerem a invasão de 1801 como a primeira invasão francesa. O que é indesmentível é que a "Questão de Olivença" está ligada a este período da nossa História. O que muitos continuam a esquecer, a omitir, e negar (?), mas principalmente a desprezar. Esperemos não ter de esperar mais cem anos, enquanto povo, para ver estas questões tratadas com verdade e sem complexos....
Estremoz, 26-Novembro-2007 Carlos Eduardo da Cruz Luna
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