Porta-voz do MDL envia carta aberta a Touriño Na manhã de hoje o presidente do Governo Galego, Emilio Pérez Touriño, tentou o impossível por se assegurar um lugar na história da língua galega, e não esteve mesmo atinado, com certeza será a história quem finalmente o coloque no seu lugar. Destaque da carta aberta ao Presidente enviada pelo Porta-voz do MDL aos meios de imprensa. |
CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DO GOVERNO
Na manhã de hoje o presidente do Governo Galego, Emilio Pérez Touriño, tentou o impossível por se assegurar um lugar na história da língua galega, e não esteve mesmo atinado, com certeza será a história quem finalmente o coloque no seu lugar.
Touriño falou hoje para o Comité das Regiões sem nada para dizer, simplesmente para comprovar que com os meios técnicos necessários, até o seu galego poderia ser utilizado nos organismos oficiais europeus. E digo poderia, porque realmente o seu galego não foi utilizado para nada. Touriño auto-proclamou-se histórico desde a bancada:
É a primeira vez que a nosa lingua se escoita nunha sesión do Comité, e este feito, sen dúbida histórico, éncheme de orgullo como presidente de todos os galegos e mesmo a título persoal.
Mas de aí a utilizar uma língua... isso não é bem a mesma cousa. Sr. Touriño. Utilizar uma língua na Europa é poder falar e ouvir as intervenções do resto dos oradores na mesma língua. Acho que falar uma língua na Europa deveria ser poder utilizá-la de um dia para outro, de um instante para outro, em pé de igualdade, pedir a palavra e falar quando o orador o achar adequado. Então, pode considerar-se uma intervenção livre e natural, o exprimir-se numa língua para cujo uso é obriga fazer uma petição com sete semanas de adianto? Hoje, nem havia serviço de tradução adequado. Falar é comunicar, falar é estar no mundo, e estar no mundo é, no seu âmbito, senhor Touriño, ser traduzido com normalidade para todas as línguas da Europa, como o resto. Hoje, senhor Touriño, não chegou a falar realmente.
E começo pelas carências técnicas porque isso é o que era a sua intervenção de hoje, uma mera experiência técnica carente de meios. Mas já depois do discurso, e alentado por esse orgulho a título pessoal que você não omitiu na sua intervenção, defendeu ante os meios de comunicação que era a primeira pessoa em falar galego nas instituições europeias argumentando que Nogueira tinha falado em português. Sabe que o ex-deputado europeu do BNG afirma que falava galego com alguns traços dialectais? Para um galego é triste ver o presidente do seu país disputar dessa maneira um pedacinho de história.
Sabia que os colectivos AAG-P e MDL enviamos recentemente, apoiados por mais de 200 intelectuais, professores, escritores e cidadãos de diferentes profissões, uma Petição ao Parlamento Europeu, aos grupos parlamentares europeus e ao Presidente da Comissão Europeia, em que solicitaram o reconhecimento da unidade da língua portuguesa, comum à Galiza e Portugal? (ver: AGAL)
Quando alguém tem a oportunidade de se colocar arbitrariamente ao pé de vultos da nossa cultura como Rosalia, Curros ou Celso Emilio Ferreiro é fácil deixar-se levar pelo orgulho, sobretudo se esse alguém se vê na obriga de falar galego e representar um papel de campanha eleitoral cumprindo com a obriga dum profissional da política. Falar galego é mais do que isso senhor Tourinho, e que é claro é que qualquer galego-falante, qualquer cidadão do nosso país que viva na sua língua no seu quotidiano se reconheceu claramente nas palavras de Nogueira ou Posada já anos atrás.
Falar uma língua é mais do que emitir uma série de palavras cuja fonética não se é capaz de reproduzir nem de maneira aproximada. Mas não vou ficar pelo sotaque do seu discurso e do da maioria dos seus parlamentares. Senhor Touriño, para nós a língua é a mesma a norte e a sul da fronteira do Minho, mas vou argumentar como se não o fosse para demonstrar-lhe a situação em que o deixa a sua afirmação. Se os senhores Posada e Nogueira falavam português e não galego pelos traços dialectais empregues, não há lugar a dúvida, de que, quando você se dirige aos ciudadanos galegos fala, pelos seus castelhanismos, mais espanhol do que galego.
Deixe de parte por favor estas pequenas batalhas e diga-lhe ao seu substituto habitual no Comité das Regiões que, se algum dia esquece que sete semanas depois vai ter alguma cousa a dizer, como galego e o português são a mesma língua, os tradutores portugueses poderão traduzi-lo para o resto das línguas sem esforço e com total rigor. O reconhecimento e a defesa da unidade linguística galego-portuguesa é a única maneira de ter um galego forte na Europa e na Galiza senhor Touriño; faça-lhe ao seu substituto esta sugestão e vai ver como, se o seu substituto é galego-falante, não vai ter o menor problema. Essa é a vantagem de falar uma língua internacional e útil.
Carlos Figueiras, Porta-Voz do Movimento Defesa da Língua.
Compostela, 17 de novembro de 2005. Nos Meios: Arredemo |
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