As causas que nos movem durante a vida dão sentido à existência e fazem perdurar na História a imagem de quem por elas lutou. O homem que preenche as páginas da rubrica "cromos" - dedicada a revelar pessoas carismáticas cujo percurso merece ser divulgado - desta adição chama-se Carlos Luna, professor de História e estremocense de alma e coração. Uma das maiores lutas que trava na vida, desde há anos, é advogar a causa de Olivença, defendendo, assim, também, a verdade e a história que considera a sua grande paixão. Um homem de causas, certezas, lutas, e intermináveis conversas. Nasceu em Lisboa de forma perfeitamente acidental, como fez questão de referir, tendo vivido sempre em terras do Alentejo, Carlos Luna, professor de História, 49 anos, passou por Vidigueira, Avis, e estabeleceu-se depois, com os pais, em Estremoz, distrito de Évora, para não mais sair. Sentados na esplanada de um dos mais emblemáticos cafés daquela cidade alentejana, escutámos o discurso aceso e empolgado do professor, próprio e característico de quem se move por profundas convicções. Confessou ter duas grandes paixões, a História e a Política, assumindo-se muito claramente como um homem de esquerda, tendo desde cedo começado a perceber que muitas coisas à sua volta estavam erradas e, como pessoa de causas que é, nunca se contentou em ficar apenas a olhar. Carlos Luna teve uma vida política activa, ainda antes da revolução que, a 25 de Abril de 1974, derrubou o regime ditatorial, vindo posteriormente a saber que estaria para ser preso no dia 1 de Maio, seis dias depois da revolta."Tento sempre bater-me por aquilo que considero justo, enquanto acho que tenho razão esforço-me", confessou, determinado, enquanto enrolava um cigarro e acrescentava que a vida não vale a pena se não existirem ideais. O homem que dedica a vida à história e à verdade dos factos, protagoniza desde há muito uma luta que alguns consideram inútil e mesmo caricata, a chamada de atenção para o problema de Olivença, a localidade fronteiriça, sob controlo e domínio espanhol, que entende pertencer por direito a terras lusitanas. (nota de Carlos Luna, à margem do texto original: "esforcei-me por provar que era O ESTADO PORTUGUÊS que entendia ser Olivença parte do território português, e que a posse das águas do Alqueva estava ligada a esta questão, e mostrei documentos. Pelos vistos, a entrevistadora, Susana Pereira, não entendeu...". Retoma-se o texto original:) O professor de História não considera Olivença a sua maior batalha mas apenas aquela que, por ser menos vulgar, chama mais a atenção e não teve dúvidas em afirmar - em jeito e tom devidamente politizados - que a maior causa que defende é Estremoz. Acrescentando ainda defender apenas aquilo que é politicamente correcto e não o que aparenta ser politicamente correcto, Carlos Luna sempre se apresenta como um defensor da causa nacional. Por entre mais um cigarro enrolado a preceito e um gole de água, o professor lá foi contando - entusiasmado como se de uma aula se tratasse - que desde miúdo ouvia falar no caso de Olivença sempre relatado com certo recato."Sempre que falamos de Olivença acusam-nos de sermos parvos e igualam-nos a D. Quixote, só que se esquecem que esse personagem tinha uma grande virtude, lutava por ideais e eu prefiro ser D. Quixote do que deixar-me comprar", assegurou Carlos Luna. Parte activa de duas associações de defesa da localidade em causa - o "Grupo de Olivença" (nota de Carlos Luna à margem do texto:"eu falei do Grupo dos Amigos de Olivença, e claramente. Não sei porquê esta deturpação". Regressa-se ao texto original:)e o "Comité Olivença Portuguesa", do qual é presidente - , o professor afirmou defender, sobretudo, o direito dos oliventinos à informação. "Por volta de 1986 lembrei-me de ir à terra de que muito se falava, gostei do que vi mas detestei a profunda desinformação que reina em Olivença entre a população que não tem culpa nenhuma", declarou Carlos Luna. De acordo com o professor, as autoridades espanholas mascararam e esconderam a verdadeira realidade histórica ao povo de Olivença, fazendo-os acreditar "em mitos absurdos, ofensivos e chauvinistas em relação a Portugal e à sua História", garantiu Carlos Luna. "Acho inacreditável que uma Espanha democrática continue a ensinar a um povo um passado que não é o seu", acrescentou, salientando ainda que parte da culpa de não haver uma definição no caso de Olivença também reside no povo português. "Sou essencialmente um lutador pela positiva e há alguns argumentos que eu detesto, os portugueses têm um desprezo tal por si próprios que é quase impossível de explicar", argumentou o professor fazendo referência ao constante pessimismo existente na sociedade nacional. De acordo com Carlos Luna, a luta pelo caso de Olivença tem muitas semelhanças com a contenda sobre Gibraltar que, segundo o professor, "os espanhóis insistem ser uma questão de justiça e tratam-na de maneira muito diferente do que acontece com a localidade próxima de Portugal. Enquanto os espanhóis aproveitam todas as oportunidades para resolver, ou pelo menos debater, a questão de Gibraltar, "o Estado Português não fala em Olivença, é quase uma posição clandestina", assegurou Carlos Luna. Mas porque lutar por uma causa que considerou sempre justa é uma questão de princípio, o professor, inserido no "Comité Olivença Portuguesa", leva a cabo diversas acções de informação junto dos oliventinos. Aos que ainda acedem a algum contacto com o português - que por aquelas paragens já é conhecido pelas lutas que trava e, portanto, não é lá muito bem visto por alguns membros da comunidade - entrega conjuntos de livros, dicionários, manuais de gramática, cassetes com expressões alentejanas e outros materiais que os possam despertar para a verdadeira história que os rodeia. O objectivo não é fazer com que os oliventinos venham a querer ser portugueses mas fazê-los conhecer a história e o passado real que, segundo Carlos Luna, sempre lhes foi incompreensivelmente negado. Por assumirem uma posição vertical e activa em relação a Olivença, os grupos a que pertence "já foram acusados de coisas incríveis", atestou o professor revelando que, se não concordarem com tudo o que a administração de Olivença faz, têm a vida dificultada. Mas habituado que está a lutas renhidas, Carlos Luna não deu por um segundo mostras de desalento ou qualquer esmorecimento em relação à causa que tanto defende, salientou que "cada vez que um oliventino nos reconhece valor, sentimo-nos reconfortados". Com raízes familiares que também passam por Olivença, o estremocense assegurou que não vai desistir de ser esse "D.Quixote" levado por ideais porque, na realidade, são eles que dão verdadeiro sentido à vida. SUSANA PEREIRA (nota final de Carlos Luna, à margem do texto:"disse muitas mais coisas. Foram duas horas de entrevista. Alguns resumos e/ou interpretações do que penso ou digo não foram totalmente felizes. Enfim, fica o testemunho".) Revista "MAIS ALENTEJO"(chega a todo o Alentejo), entrevista a Carlos Luna sobre OLIVENÇA, Outubro-2005 (uma página inteira com uma fotografia da cara de Carlos Luna) Secção "Cromos", pág.26 |